domingo, 31 de julho de 2011

Democracia e influência das corporações

"I mean, what's the elections? You know, two guys, same background, wealth, political influence, went to the same elite university, joined the same secret society where you're trained to be a ruler - they both can run because they're financed by the same corporate institutions. At the Democratic Convention, Barack Obama said, 'only in this country, only in America, could someone like me appear here.' Well, in some other countries, people much poorer than him would not only talk at the convention - they'd be elected president. Take Lula. The president of Brazil is a guy with a peasant background, a union organizer, never went to school, he's the president of the second-biggest country in the hemisphere. Only in America? I mean, there they actually have elections where you can choose somebody from your own ranks. With different policies. That's inconceivable in the United States." - Noam Chomsky, da wikiquote.org

Noam Chomsky é considerado uma das pessoas mais influentes da atualidade, tanto por seu ativismo político quanto pelos seus estudos científicos. Uso essa citação atribuída a ele para refletir sobre nossa forma de organização.

Ele (Chomsky) inicia sua citação criticando as eleições nos Estados Unidos. Lá, apesar de existirem vários partidos e candidatos, só dois concorrem, de fato, à presidência: O candidato do partido Republicano e o candidato do partido Democrata. Contudo, a crítica não está no fato da falta de pluralismo partidário, e sim no currículo dos candidatos, pois os candidatos de ambos partidos sempre tem o mesmo perfil: são universitários, com boa situação financeira, com mesmo padrão de moral e representam os interesses de corporações. A seguir, após citar o discurso de Barack Obama, ele compara os EUA ao Brasil, dizendo que aqui sim a população é livre pra escolher, pois foi possível eleger Lula, que não tem estudo e era líder sindical, concluindo que essa opção/possibilidade seria impensável nos EUA.

Fiquei pensando se realmente isso tinha cabimento. E Chomsky, apesar de ser um crítico brilhante, creio que nesta opinião não foi muito feliz. É verdade que Lula foi uma "nova opção" para os eleitores brasileiros em termos de currículo político e pessoal. Contudo, vamos direto no que interessa: Lula foi candidato várias vezes, e quando foi eleito em 2002, conseguiu isso com apoio de grandes corporações (seja isso coincidência ou não, é fato).

Ao perceber isso, questiono a capacidade de algum candidato, aqui ou nos EUA, conseguir ser eleito sem representar interesses e ter apoio de grandes corporações e pessoas poderosas. Eike Batista realizou doações milionárias para as campanhas da Dilma e do Serra. Outras empresas que também ajudaram "os dois lados" foram algumas construtoras. Coincidência, ou não, eram os candidatos favoritos pelas pesquisas, e cada um destes tiveram doações muito maiores que todos os outros juntos.

Coincidência, ou não, creio que são coincidências demais. Lula não teria sido eleito sem ter conseguido o apoio de grandes corporações. E Dilma também. E provavelmente os próximos presidentes seguirão essa tendência. Por isso, vejo que o problema de falta de escolha não tem a ver com sistema bipartidário, como nos EUA, e sim com o bipartidarismo que as corporações criaram aqui e lá.

Diante disso, qualquer discussão em termos de candidaturas e partidos torna-se fútil, já que o vencedor tem seus compromissos com "lobbystas". E estes não tem nenhum problema em apoiar e financiar alguém que tenha uma história de vida simples.

Diria ao Chomsky que o problema não é o sistema político, e sim a influência das corporações sobre a política. Quem sabe a proibição de contribuições de empresas para candidatos conseguiria reduzir um pouco essa influência? Eu gostaria de ver isso, aqui ou lá nos EUA. Quanto à eleição do Lula, vejo apenas como um oportunismo dos "lobbystas" que apoiaram o candidato certo (favorito e popular).

Vendo movimentos populistas nos EUA como o "Tea Party", entendo que os EUA não estão livres de eleger alguém que não seja da elite universitária do país, pois basta que esse candidato seja popular o suficiente para conseguir o apoio das corporações.

E a Democracia nesse capitalismo onde corporações comandam a política, é só para "inglês ver".

sábado, 16 de julho de 2011

Sobre planejamento estratégico

Reflexão sobre o assunto proposto no texto Uma Introdução ao Planejamento Estratégico, de Cláudio Porto.

Logo no início do texto o autor apresenta as ideias de mudanças rápidas no mercado para justificar a necessidade de formulação de um plano estratégico. Nesse caso eu pergunto a você, leitor: qual o foco da estratégia da empresa que você trabalha?

É sabido que a grande maioria das pequenas e médias empresas tem um plano "tácito" de estratégia, não sendo a estratégia formulada por um documento a ser distribuído e discutido entre os funcionários. E mesmo assim essas empresas existem, geram empregos, renda e lucro. Considerando as sugestões do autor, nada impede que uma empresa pode definir um plano estratégico ao mesmo tempo multidimensional, com definição de domínios de negócio e com modelo de decisão integrador. Passado a divulgação do plano, a empresa e seus funcionários vão seguir com a batalha diária de competir, e aquele documento vai ter servido para quê?

Considerando o cenário de alta competitividade e turbulência, creio ser muito importante que o plano estratégico foque a inovação e a capacidade de conseguir planejar ações que vão tornar a empresa diferenciada.

Diante disso, prefiro complementar a ideia do autor. A estratégia é importante para manter a organização unida em torno de objetivos a serem alcançados a longo prazo, sim. Mas a administração estratégica deve ser vista como um processo que faça com que a empresa seja focada em melhorar a competitividade e obter vantagem competitiva, alcançando melhores resultados (melhores em relação ao passado, e melhores do que a concorrência). Os autores Hitt, Ireland e Hoskisson (2008, p.6) definem o processo de administração estratégica como "...o conjunto completo de compromissos, decisões e ações necessários para que a empresa obtenha vantagem competitiva e retornos acima da média".

Para aprofundar a percepção da competitividade no mercado atual, os mesmos autores usam o termo hiperconcorrência, dizendo que
"...as hipóteses de estabilidade do mercado são substituídas por conceitos de instabilidade inerente à mudanças. A hiperconcorrência é resultado da dinâmica das manobras entre concorrentes globais e inovadores. É uma situação de concorrência que evolui rapidamente com base no posicionamento preço-qualidade, concorrência para criar novo know-how e estabelecer vantagem para aquele que chega primeiro (first-mover), e concorrência para proteger ou invadir mercados de produto ou mercados geográficos estabelecidos. Em um mercado hipercompetitivo, as empresas geralmente desafiam agressivamente seus concorrentes na esperança de melhorar sua posição competitiva e, por fim, o seu desempenho."(HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008, p.7).

Outra característica que influencia o mercado - e consequentemente as empresas - são as mudanças tecnológicas, tanto em variedade (muitas tecnologias novas surgindo ao mesmo tempo) quanto em velocidade (novas tecnologias são difundidas e adotadas rapidamente).

E também por consequência das mudanças tecnológicas, estamos vivendo na "Era da Informação" e as empresas devem saber aproveitar as oportunidades que as informações disponíveis podem oferecer. Para exemplificar, a Amazon mudou a forma de vender produtos na internet, ao conseguir reunir e utilizar as informações sobre clientes para sugerir produtos e atender cada cliente de maneira única. O Google também consegue personalizar a experiência do usuário ao disponibilizar anúncios de acordo com o seu perfil e suas buscas realizadas. Essa forma de personalizar o atendimento ao cliente usando as ferramentes tecnológicas e as informações que se possui sobre o cliente também é conhecida por customização em massa.

Um plano estratégico de longo prazo dificilmente irá prever as mudanças que ocorrerão no período. Por isso é necessário que haja flexibilidade estratégica, definida pelos mesmos autores já citados como "o conjunto de capacitações utilizado para responder a várias demandas e oportunidades que existem em um ambiente competitivo dinâmico e incerto", que eu complemento com a citação de um executivo inglês: "para gerar valor extraordinário para os acionistas, a empresa tem de aprender melhor do que os seus concorrentes e aplicar esse conhecimento em todos os seus negócios mais rápida e amplamente do que eles".


Fiz toda essa revisão de conceitos para responder as seguintes perguntas:
  1. O plano estratégico deve preparar a empresa apenas para esclarecer a estrutura decisória, funções, e domínios de negócio? 
  2. Será que essa ideia inicial do autor de plano estratégico não limita os objetivos e ações da empresa a apenas acompanhar e responder ao mercado?
  3. É mais importante um plano que defina a estrutura e o domínio de negócios da organização, ou que sirva como base para difundir a ideia de inovação e aprendizagem dentre os funcionários?

Eu acredito que o plano estratégico tem que fugir de formalizações e definições organizacionais, pois dessa forma ele não vai contribuir para a empresa se envolver num mercado muito competitivo. Para a realidade da alta competição, eu acredito que o plano estratégico é bom
quando é útil para que sejam discutido pelas equipes formas de trabalhar uma demanda de maneira diferente, ou melhorar um processo. O plano deve, em geral, incutir nos funcionários as ideias de flexibilidade, inovação e aprendizagem, pois assim a empresa pode conseguir vantagem competitiva difícil de ser imitada pela concorrência, e o plano vai estar servindo de base para que os funcionários reflitam, aprendam e melhorem os processos nos quais estão envolvidos, cada um no seu departamento.

Referência bibliográfica: 
HITT, M.; IRELAND, R.; HOSKISSON, R. Administração estratégica: competitividade e globalização. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
 

Transparência e ética profissional

Resenha crítica do artigo Governança corporativa: Quando a transparência passa a ser uma exigência global (Ana Tércia Lopes Rodrigues), IX Convenção de Contabilidade do Rio Grande do Sul, 15/8/2003

A autora começa o artigo apresentando os motivos que levam as organizações a um maior grau de transparência, justificando o modelo de gestão que privilegia a informação. Dentre os motivos destacam-se: o interesse em captar recursos de investidores e barganhar taxas de financiamento com bancos. Ainda na introdução, é apresentada a forma mercadológica de classificação do nível de governança de uma empresa, comentando sobre o segmento Novo Mercado da BOVESPA. 

O texto segue com mais quatro tópicos e a conclusão. No tópico seguinte, "A TRANSPARÊNCIA COMO EXIGÊNCIA DO MERCADO", a autora começa usando o caso da Enron para basear o argumento da necessidade de transparência, fazendo a conexão entre falta de transparência e prejuízo financeiro, resultado do caso da referida empresa. A próxima ideia apresentada é a de que "empresas com visão de mercado avançada" estariam se estruturando para adotar práticas de governança corporativa, justificando essa ideia com uma citação direta do presidente do grupo Gerdau, extraída do Jornal do Comércio. A autora apresenta a opinião de um empresário retirada de um jornal, e extrapola essa opinião como se fosse um padrão para todas as grandes empresas. Além disso, a Gerdau até os dias de hoje está listada apenas no Nível 1 de governança corporativa, não sendo a melhor referência em governança corporativa do Brasil. Neste ponto a autora não apresentou bons argumentos para defender a ideia apresentada, tampouco apresentou uma ideia clara do que deveria ser defendido ou justificado.

No parágrafo seguinte o artigo chama o BNDES de "Banco Nacional de Desenvolvimento do Extremo Sul", entidade que não existe. Porém, ao consultar as referências bibliográficas percebe-se que se trata do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

O tópico segue com a explicação do programa do BNDES de incentivo à adoção de práticas de governança corporativa por empresas que venham a pleitear crédito e, por fim, informa que as empresas brasileiras com governança corporativa estão rendendo acima da média do mercado, comparando o IGC com o IBOVESPA, contudo, não detalha o período de comparação dos dois índices.

O segundo tópico apresenta aspectos conceituais da governança corporativa, onde é possível perceber maior número de citações para o embasamento das ideias. Para defender a ideia inicial de mudança no cenário de gestão das empresas, é citado o exemplo da profissionalização de empresas familiares, aliado à percepção de buscar atender aos interesses de todos os stakeholders, ao invés de priorizar somente o lucro. Em seguida o tópico apresenta conceitos de governança corporativa do IBGC e de fontes consultadas, relacionando a governança com a Teoria de Agência e de Economia de Custos de Transação. Por fim, apresenta um breve histórico e os quatro pontos chave da governança corporativa.

No terceiro tópico, o artigo apresenta as melhores práticas de governança corporativa. Inicia com menção aos documentos produzidos por instituições que zelam por padrões de governança no mundo, com destaque para o Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC. A primeira regra é em função da propriedade, a qual deve priorizar a igualdade entre acionistas minoritários e controladores, segundo o artigo. Em seguida, detalha o funcionamento de cada órgão de governança, sua responsabilidade e função dentro da empresa e, por fim, os dispositivos e regras para administrar o conflito de interesses e a ética na gestão.

No tópico intitulado "A BOVESPA E O NOVO MERCADO", apresentam-se as características de listagem no segmento diferenciado de governança corporativa. O Novo Mercado da BOVESPA foi baseado no modelo alemão do Neuer Market, fazendo com que haja dentro da bolsa um segmento de listagem diferenciado para empresas que adotaram as melhores práticas de governança, segundo as regras estabelecidas no modelo. Ao apresentar as regras de listagem, o artigo apresenta algumas falhas, como é o caso de mencionar direito de voto às ações preferenciais, e no outro item mencionar que só deve haver emissão exclusiva de ações ordinárias. O Novo Mercado só permite empresas com 100% de ações ordinárias. Após listar algumas regras, o artigo compara o IGC com o IBOVESPA em um período determinado, e cita a fonte. Por fim faz um balanço entre os benefícios e os custos de adesão ao novo mercado, destacando o poder de barganha e valorização da marca dentre os benefícios e o alto custo de entrada e manutenção da empresa no novo mercado, por ser necessário manter toda uma estrutura de disclosure, relação com investidores e demais órgãos de governança.

Na conclusão, a autora inicia comentando as mudanças no cenário corporativo trazidas pelos conceitos de transparência e governança. Em seguida faz um comentário acerca da importância dos profissionais contribuírem com seu trabalho dentro da empresa, em direção às boas práticas de governança corporativa. No parágrafo seguinte menciona a importância da responsabilidade social, contudo, este termo só havia sido citado na introdução e comentado em um dos tópicos do artigo, sendo que no tópico de aspectos conceituais da governança ela menciona "tripé da governança corporativa", ou seja, no momento de detalhar as dimensões da governança corporativa ela não fala da responsabilidade social, ficando uma lacuna quanto a esta característica de governança dentro do artigo. Aparentemente a própria autora não soube sintetizar os diferentes pontos de vista da bibliografia consultada, e em cada tópico no qual ela se baseava numa bibliografia diferente, mudavam a forma de apresentar alguns conceitos, como neste caso.

profissional, como também na questão da responsabilidade social corporativa, a qual toma a maior parte da conclusão. A conclusão não retoma a importância da transparência na organização, não sintetiza percepções trabalhadas no desenvolvimento dos tópicos e termina dizendo que para novos investimentos e melhores controles internos, um modelo de governança corporativa pode ser importante.

Apesar de apresentar algumas falhas de forma e ideias desconexas, o artigo ressalta um tema importante: a responsabilidade ética dos profissionais envolvidos na governança da empresa. Da mesma forma que a transparência é fundamental para manutenção de um bom relacionamento com stakeholders, a ética dos profissionais envolvidos na gestão da empresa, nos diversos níveis hierárquicos, é importante para garantir que as informações passadas refletem a verdadeira situação da empresa. Sem o dever ético de cada profissional para com sua função, não há sistema de governança que possa garantir uma gestão competente e interessada em defender os direitos dos acionistas e demais interessados.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Comunicação e clima organizacionais


Para comunicar-se, o emissor precisa codificar sua mensagem de maneira que o receptor consiga entendê-la (decodificá-la). Por isso vemos em propagandas e anúncios publicitários as mais variadas formas de “dizer” o que se pretende comunicar, pois anunciantes querem atingir um público específico. Para isso buscam usar o melhor meio para atingir aquele público, com a linguagem certa e com o código adequado.

A comunicação organizacional pode usar os mesmos princípios, se beneficiando da ideia de tratar funcionários e equipes como público-alvo e assim traçar o perfil desse público para comunicar-se de maneira mais eficiente. Entretanto, ao meu ver, a comunicação organizacional é mais complicada, pois além de envolver feedbacks, ela influencia – e molda – o relacionamento dos funcionários e o clima organizacional.

Se o emissor for um gerente e codificar sua mensagem de maneira ríspida e desagradável, ao criticar o trabalho do receptor, o impacto no relacionamento poderá ser negativo, pois o receptor pode não tomar coragem para dar um feedback acerca do caso, e passar a tomar atitudes mais defensivas dali em diante. Por outro lado, se o gerente codificar sua mensagem como uma crítica construtiva, o receptor poderá aceitá-la de maneira positiva, sentindo-se com maior liberdade de tomar atitudes proativas. Quero dizer com isso que o impacto da mensagem não é somente naquele momento de comunicação, mas sim, no relacionamento entre os dois funcionários, nas atitudes por parte dos envolvidos e, por fim, no clima organizacional.

No caso de existir um relacionamento muito ruim entre dois funcionários, que não encoraje sequer um feedback acerca da necessidade de se trabalhar melhor o envolvimento dos funcionários e as atitudes de cada um da equipe, o relacionamento vai se tornar burocrático e existir apenas por imposição trabalhista, além de se tornar muito complexo do ponto de vista gerencial. Nesse caso, creio que a melhor solução pode ser conseguida com terapia de casais aplicada ao ambiente de trabalho. E com o estresse da competitividade do mercado atualmente, não vou me surpreender se, no futuro, encontrar psicólogos especialistas em terapia para equipes de trabalho.

Para obter um resultado favorável no processo comunicativo, o comunicador deve ter a percepção do clima organizacional. do melhor meio, e código mais adequado para lidar com o receptor em questão. Além disso, mesmo não sendo o gerente, deve tomar a liberdade de expôr na mensagem tudo o que achar necessário para que esta seja entendida e utilizada da melhor maneira possível, tanto sobre o ponto de vista técnico ou do processo em que se trabalha, como também do melhor impacto no clima organizacional e no relacionamento.

Fontes: